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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

8 em 1

o mundo é um cisco no meu olho direito.

dói mesmo quando durmo.

sonhei que tinha formato de lua.

ele esconde de mim segredos d’alma,

a solução para meus problemas.

e dói. está comigo no presente, passado e futuro.

só uma lágrima tão grande quanto o universo pode tirá-lo.

choro com uma comovente canção antiga,

e ele desce do meu céu quando a chuva cai.

inerte, eu percebo desejá-lo ainda mais, agora.

o mundo absoluto, banido da visão,

traz de volta o primordial medo

da completude.

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de noite uma voz

suspensa no ar

traz surpresa ao olhar

desvanece, diante de nós:

é um antigo lamento

que um cristal do oriente

guarda de quem sente

o coração em tormento

ferida, a ave se recolhe.

o Amor que cedo sorriu

tem sua vida por um fio,

tomba em sonhos, encolhe.

tudo esquece nesta noite azulada

lábios frios, de entorpecidos

beijos, sutis e não-sabidos,

de desejos vãos em revoada.

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o ocaso desce

sobre as velhas pirâmides,

o coração arde...

tanta civilização para nada!

por dentro tudo retrocede ao pó. Sírius

surge e observa a passagem da

última caravana. Vozes de crianças, água e sol

relampejam nas dunas, para gerar

a incompatível paisagem de que me despeço.

e, finalmente, eu durmo.

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o natal não é mais.

o inverno prossegue.

a casa da montanha,

tocada pela bainha do céu,

desapareceu. teu regresso não ocorreu.

Alma, se tu existe, assim,

simplesmente permanecendo,

ciclicamente voraz, perdoe-me,

mas não posso acreditar-te.

nos meus sonhos não há mais presenças,

o que é vivo ficou para depois.

notícias de uma guerra tremenda

chegam de longe. As estrelas vomitam

luz cansada, o universo é uma verdade pálida,

feminina.

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do que sobrou de mim não nasçam flores.

cresçam triângulos e pentagramas, formas

frias, tristes, trevosas.

que povoem o cosmos com tédio e geometria!

quero que observes isso, Amor, quero que

te creias o oposto. que sejas o embrião quente,

o fértil palácio, a floral textura, o odor cândido

do viço- a humana estrela fugaz

que eu não pude ser.

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te vejo em praças e ruas

te vejo sorrindo depois de uma prova

(mais um dez!)

te vejo com teus passos rápidos

indo para casa.

só isso, só te vejo, com teu jeito suave,

teu odor natural e tua voz tão doce.

tudo em redor pára e meu coração,

esta peça insubstituível, esta profunda dimensão

do eu, sabe que dificilmente sobrevivo

a te dizer coisas do tipo “eu te amo”.

Sopra o vento do amor, a natureza se reduz

ao teu andar, teus olhos, tua pele, o que já

me disseste e o que almejo saber. mas estou aqui,

sozinho, escrevendo... longe do

meu- tão próximo- oriente.

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chuva, por que te intrometes

agora, caindo, cheia de ameaças,

no fechar da tarde?

raios, espaguetes cintilantes

nos ares cinzentos, vermelhos.

trovões, caldeirões de bronze

que caem no chão da cozinha...

não temo estes poderes da natureza,

só temo que surjam assim, por acaso,

subversivos servos de leis ocultas-

e venham me roubar a pouca inspiração.

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chego à noite, cansado.

a chuva está parando.

não te encontro em casa.

teus passos imaginários ecoam

pela sala organizada e vazia.

a única verdade é a lua lá fora.

te penso batendo à porta

e, quando abro, dou com o corredor

obscuro, e com teus olhos semicerrados:

-que foi?

não digo palavra. um súbito raio

põe tudo em trevas. sentas-te.

tenho medo das tuas cartas de tarô.

de manhã, um arco-íris pousa na sacada.

natal, 2010

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