-Quem é o dono deste blog maluco?
-Ei, cara, entra aí e descobre.
-Pôxa, que falta de educação!
-"O caminho do excesso leva ao palácio da Sabedoria."
-Saquei. Até mais!

domingo, 27 de fevereiro de 2011

borboleta negra


faz tempo que não vejo
os monstros do limiar do desejo
espiando do canto do espelho
sussurrando sob o travesseiro
uma parte de mim adormeceu
quando também adormeceste
e foste viver no simples quotidiano

_monstros! saiam daí, me assustem,
eu quero, por favor! senão a vida
me desgasta.

ponham a roda da fortuna pra girar...
detesto brincar sozinho no balanço.
sonho amiúde com um grande colégio
em que não aprendo, só estou buscando, irmã
maluquinha, onde fica a tua sala.

(um dia desses encontrei tua mesa, abri tua
gaveta, e lá dentro só tinha esta...imensa
borboleta negra)

será que foram os monstros?

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

história da princesa fantasma


A noite na cidade de Doma
é cheia de surpresas e mistérios...
estou certo que vocês não conhecem
a história da princesa Roma.

Ela não é uma pessoa comum
circula pela noite numa tarefa
que há muito não se sabe qual é:
pula entre os tetos, surge de lugar algum.

Veste-se toda de branco e cinzento
seus cabelos são de feérico negro
uns trata com bondade, outros fere,
é rápida e silenciosa como o vento.

O mais notável de tudo isso
vem com o fato de que Roma não deixa
sequer um traço ou pista para trás,
se resume a um nada, vazio, sumiço.

Gente viva ou pessoa morta,
a princesa não existe para o dia.
dizem que ela veio dos espelhos
Que por paredes grossas seu caminho corta.

Doma é nossa bela capital
que no alto de uma torre guardada
mantém dentro de um escrínio de vidro
algo secreto, sutil e fantasmal...

Desse algo a língua do povo tudo conta
mas o que é eu sei, meus caros amigos:
um coracão mecânico, frio e carmesim.
a quem pertence é de grande monta.

Um bruxo velho ameaçou a cidade
Nos tempos de Merlim, com uma maldição.
houve grande guerra e o Trono
sucumbiu sob tanta maldade.

Este terror não sendo suficiente,
a família real virou pó por mão do bruxo,
exceto a princesa, por quem
o maligno desejou ardentemente.

Vendo que ela não atendia seus caprichos
ele, à morte, chamou suas estrelas más
para que dela separassem por magia
Corpo e Alma em dois distantes nichos.

Eu sei que, assim, o espectro da princesa
flutua toda noite pela torre protegida,
para com seu coração de novo unir-se.
mas há um encanto que proíbe a empresa.

Amigos leitores, dentre vós talvez exista
alguém que a este conto fim dar possa?
lembre-se de vir à cidade de Doma,
que fica onde não alcança a vista.

Como conheço tudo desta triste história?
é que da noite também sou habitante.
pelos sótãos e calhas sou chamado
Romeo, um gato velho, mas de boa memória!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

beije o eclipse


o sol se fecha como uma janela

uma dona de casa invisível varreu as nuvens

o pai esqueceu de desligar a televisão, e

o filho espalhou todos os brinquedos pela sala.


a noite desliza pela cozinha limpa

até encontrar um ninho debaixo da pia.

é onde a filha gosta de guardar sua boneca.

se eu não tivesse prova amanhã, sairia.


meu quarto é um limbo, minha atitude  sumiu

discos feitos de resto de luz  escondem o 

computador e  você... bem, você não vem estudar 

comigo, pois é deveras inteligente.


fico esperando o telefone tocar,

não ouço música.

o caderno de poesias

só tem teu nome...

todos os dias. 


o espelho te promete,


a lua surge e os livros dormem.

de repente ouço tua respiração vindo do sótão. 


(obrigado ao My Bloody Valentine)

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

vale a pena




tem gente que se surpreende
com o fino olhar de um pássaro
à janela, de manhã. Ele pia.

eu não me  aborreço mais com teu peso
e teu olhar, esfinge,
pois sei que tu és minha esfinge.

só que não dizes nada. tuas asas
de anjo sacodem com o vento.

tens uns lábios tão vermelhos
que devem ser tão frios...

se eu te beijar eu sei que o universo
vai se desfazer. vai , sim.

mas a idéia não é tão má. vale a pena.




sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

flores malucas


Tardes de janeiro
Chuva e vento
A mente nada no imediato
Cada segundo resiste
A sua própria passagem
O centro do labirinto
insiste na ignorância
Faz frio e tua ausência
me aquece a imaginação

às vezes, quando sinto que tudo vai retornar...
ESTAS FLORES MALUCAS E SORRIDENTES APARECEM.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

desvendando a desventura

Não é uma extrema desventura
o céu estar sempre  sobre nós,
a sós?

Aquela cara azul de artista
fitando nossas cabeças baixas

somos corpúsculos observados
por um cientista através da 


câmara de nuvens.


o gótico céu derrama
um futuro que não quer-emos.



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

osmose

Quando crianca eu tinha
um desses jardins osmóticos,
separados do mundo 
por uma frágil membrana

hoje, já adulto, sei que o que
percebemos, o objeto, 
guarda semelhança 
com o meu jardim.

nossa percepção das coisas,
o modo como percebemos,
se processa via membrana.

como eu disse, ela é frágil:
aqui, tem a espessura de um átomo,
ali, a de um universo- e é,
para nós, invisível, imprevisível.

funciona como um excêntrico, caprichoso,
seletivo espelho cujas razões 
não compreendo.

(eu diria que mesmo nossas noções
éticas tem mais a ver com a imperfeição
de nossas ligações com a osmose que com
conceitos bobos como Bem ou Mal)

estas imagens maniqueístas nascem dessas
cognições imperfeitas. 

Mas não adianta muito
"saber" disso. Temos que aprender
é a lidar com a dor que vem com a
"Sabedoria".


-Parti de minha infância em que era tonto e
feliz e agora chego à velhice, em que
sou sábio e, por isso, sofro.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

01

o uno e o múltiplo

circum-referenciados

a sequência binária

tudo e/ou nada

o tempo é um número

de infinitos algarismos

de onde ele começa a crescer?

princípio, meio ou fim?

as flores, sem as pétalas, seriam

incontáveis

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

moça com unicórnio


os tons cinzentos do crepúsculo

passam e escondem as estrelas

nosso ninho é pequeno e sujeito

ao perigo do vazio que nos cerca

nós mesmos somos vazios

de lábios frios como mármore

nossa existência é pouca

nossos sonhos caem gota a gota

das pétalas mortas de uma absurda flor

o que digo não é triste nem alegre.

se a verdade existe, é como um livro

de um autor que quer enganar,

como os dos livros de Direito

e das grandes religiões.

nas caminhadas que fazíamos

não dizíamos palavras doces;

identificávamos na paisagem

coisas e padrões que nos

profetizavam felizes.

nada mudou no nosso silêncio.

estamos distantes e esquecidos

de como os pores-do-sol cinza

duravam muito muito tempo.

e de como era especial

ver quando a lua surgia

por trás de nosso ninho.

como que refletidos no universo

estamos preenchidos de estranheza.

o ritual do poente é insone;

não há glória em saber e morrer.

o não-ser se converte em horas

diante da TV.