
os tons cinzentos do crepúsculo
passam e escondem as estrelas
nosso ninho é pequeno e sujeito
ao perigo do vazio que nos cerca
nós mesmos somos vazios
de lábios frios como mármore
nossa existência é pouca
nossos sonhos caem gota a gota
das pétalas mortas de uma absurda flor
o que digo não é triste nem alegre.
se a verdade existe, é como um livro
de um autor que quer enganar,
como os dos livros de Direito
e das grandes religiões.
nas caminhadas que fazíamos
não dizíamos palavras doces;
identificávamos na paisagem
coisas e padrões que nos
profetizavam felizes.
nada mudou no nosso silêncio.
estamos distantes e esquecidos
de como os pores-do-sol cinza
duravam muito muito tempo.
e de como era especial
ver quando a lua surgia
por trás de nosso ninho.
como que refletidos no universo
estamos preenchidos de estranheza.
o ritual do poente é insone;
não há glória em saber e morrer.
o não-ser se converte em horas
diante da TV.

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