-Quem é o dono deste blog maluco?
-Ei, cara, entra aí e descobre.
-Pôxa, que falta de educação!
-"O caminho do excesso leva ao palácio da Sabedoria."
-Saquei. Até mais!

terça-feira, 31 de maio de 2011

poem and prose


um grande fragmento de sol é um anjo caído; beijo não dado, leito com um dossel de simples renúncias. os frutos não infernizam, a toalha molhada da manhã  desce da harmonia das esferas. eu era impermeável, a borracha seticolor que deslumbra tudo, pervagando ao contrário a inconsciente igreja descentralizada dos antigos. procurava o colo e o carinho num mundo dismórfico impregnado de teatralidade e atrações domingueiras. a matinê era a minha namorada preferida, mas com  serafina o sexo(gnóstico) era retórico, e, durante, falávamos em línguas desconhecidas.
tinha uma idéia táctil do querer, e desconhecia a desculpa. a família era a lareira romana, pompéica, vazia. a pátria onde todo mundo é profeta é uma ditadura teológica. lia aquelas tiras dinâmicas mas o olho se conservava parado; o tempo misturava fundo como um caleidoscópico diafragma de conceitos. via tudo de lentes coarctadas, vítreas retinas das Nornas.
o imenso e o iminente numa dança gravitacional de maré e sonho no quarto noturno: merlim estava me olhando, murmurando feitiços gaélicos para eu adolescer. e vinha o soluçante prazer imponderável, a aparição do duplo sedutor. a mente descarrilava trens e dragões.
um pequeno grão de lua é um efeito especial. quando entrei no grande colégio marino e conheci a irmã maluquinha fui polinizado com desassossego, minha divindade caiu aos meus pés, dizendo adeus e desaparecendo num eclipse negro. ela era só deleite e imagens dos cânticos de salomão. mas foi feita esfinge, também. e suas asas pesadas como musselina e seus lábios e sua pele  me tresandaram. produzo estes intervalos grátis de vislumbre para reafirmar-me, reverter-me; versos são os solenes suspensórios  da alma.

Therefore, you should know that neither the feeling of touch
nor your body has location and that they are false, being neither
causal nor conditional nor self-existent.
(from the Surangama Sutra)


nadas

nada, sonhador,
na piscina de estrelas!
vês os pequenos lumes em fuga,
circulando silenciosos?
não nos dizem coisa alguma...
nós é que não nos convencemos do óbvio:

queríamos tanto viver que secamos a fonte da vida
(da nossa vida e a das outras espécies)...
somos casca, papel  velho, sem selo, inscrições, instruções de uso, origens e/ou futuro.

um farol que surge da penumbra nos queima os olhos 
não há chances

somos muito animados,
queremos fazer tudo, tudo ter
mas somos faltos de alma-
esta fata morgana ou arco-íris.

a morte resvalou nossos domos, e a pedra
não se segura mais.
dormimos e, fora de nós, os diques da percepção
borbulham secura,  inconsistência, descontrole, negação.

nada, sonhador, te garante teus desejos, nada te concede
felicidade ou  bom fado.

mas nadas na pequena piscina de estrelas...
onde tudo é afogar-se.

alguém me disse que a praia existe,
mas que significamos distância

segunda-feira, 30 de maio de 2011

susto

na clareira, noite inteira
crepita a fogueira

o povo canta os hinos
há tambores e sinos

o equinócio se prepara
a vítima está na ara...

menina de branco vestida
pura virgem esquecida

o sacerdote é velho e divaga
tem à mão a taça e a adaga

de dentro da lúgubre floresta
um urro, ameaça funesta...

todos correm com medo
do vulto imenso e quedo

belas e nuas dançarinas
bêbadas, tontas bailarinas

lá vem ele... é o deus Pã?
Raivoso daquele afã?


Não... são dois meninos disfarçados
Espertos, bem safados.

Dispersaram aquele sabá
Garotos piores não há.

Assim somos nós, humanos,
Bobos o suficiente pra crer em deuses
Quando qualquer sonzinho da mata
Nos faz molhar as calças.

Os traquinas ficam com nossa comida
Nosso trabalho e tostões.
Isso ocorre há 10000 anos.

( Ninguém sabe o paradeiro
da virgenzinha... terá ido à Babilônia,
ou ao Sião? 
Ou Sodoma? )

domingo, 29 de maio de 2011

playa


reflexos frios
da tua carne
que as ondas pincelam
pela areia quente

nuvens sitiando
os continentes
dizes algo e só penso em flores
o halo do sol imita
uma gota de néctar
caindo em teus cachos...
mulher ou pérola?

esta praia drena o infinito.
pela manhã, brincamos sob as palmeiras,
mas de tarde vou ao interior da península
ler e consultar os oráculos.

carpe diem


as botas dos deuses marcham sobre nossas cabeças
nós  os criamos, agora eles nos estrangulam;
vendemos barato nossos sonhos
que bóiam, como baleias arpoadas, do oceano.
não creio que mereçamos um fim súbito, misericordioso.
no final há apenas um deus, o pubescente
o bêbado e infeliz...dinheiro.
quando o fim chegar, depois de um século ou menos,
quero estar cercado de animais, plantas, água, vento, terra...
não nestes hematomas epidurais chamados cidades.
quiseram criar a felicidade virtual?
pois só terão desterro real.
os monstros respiram salina ignorância
afiam suas garras no concreto
sussurram senhas de cartão de crédito,
títulos mobiliários, ações e minutas de processos.
ao surgir do cogumelo dourado, quero estar lendo
as odes de Horácio.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

sem título


 horizonte
espinha de luz
de um gigante
deitado

sol
caroço de energia
ilha redonda
parada

nuvens
gatos saltando
alegres
prateados

versos e música
memória e mistura
vigiando
o vazio

O velho deus da Arcádia
com sua flauta
celebra
a queda de Zeus