-Quem é o dono deste blog maluco?
-Ei, cara, entra aí e descobre.
-Pôxa, que falta de educação!
-"O caminho do excesso leva ao palácio da Sabedoria."
-Saquei. Até mais!

domingo, 31 de julho de 2011

não vá, senhor!



senhor, não siga pelo duro mar da sorte
é cheio de sereias e tudo que seduz
e tua bússola faz, do sul, o norte.

melhor seres cauto e forte
e andar pela afiada lâmina da luz,
pois a Parca velha quer de teu fio o corte.

senhor não proceda assim por puro esporte
insensatez sempre ao hades conduz
alto é o preço para o consorte.

a vida respira, solar e lunar
cada momento encampa sua cruz
empresa e tormento não há de escapar.

quando fores, senhor, te por a sonhar
cuidado o que não te faz jus
por pouco se perece neste desarrazoar

não vá por aí, senhor, a cantar
sem o aval da prudência que te induz
a tudo ver, cotejar, considerar.


tensão filosófica


não me procures por estes dias
que estou a examinar minha vida:
nem que fora a data do Final Juízo
meu tempo e atenção te daria.

que queres saber de mim?
não vês que estou ocupado?
Nem o Anjo da Morte
se vê como eu tão atarefado...

por estas jornadas em que ponho
tudo o que quero no prato da balança;
e no outro prato, tudo que posso.

pende e pende o poder e a cobiça
e nunca nunca se estabiliza.
não me perturbes quando estou
nesta cambaia situação.

paragonar realidade e sonho
tarefa cruel e ingente
que não é pra muita gente.


agosto contragosto



(depois da fúria das férias)
julho que termina.
pela lógica, viria agosto, agora.
mas inicia o mês
de meu descontentamento,
que não tem nome,
apenas é inverno
(para mim)
eu, pobre, me perco
pelas despigmentadas telas de maio
da vida.
passo pelas perdas, delitos e danos
dos becos das cidades,...
todos os esgotos mentais
confluem para esta propalada
metrópole amazônida
que não é mais que uma
vila ignóbil nas bordas
de um reino ibérico extinto após a invasão
januária fluminense.
encalhada e erodida,
Belém, cidade...proibida.


sábado, 30 de julho de 2011

himmel ueber Belém

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céus que se movem todos juntos
para ficar imóveis...
não pensam em você.
perfeito mecanismo homocinético
você acha que o céus são o paraíso ético?
está enganado.
feitos de ângulos, imperceptíveis...
planuras rasas, junturas secretas,
eles são o inferno geométrico
sete ou nove que sejam.
passam bitolados e indiferentes
unidades cósmicas de turbilhonamento
e desdém.
não pense nesses céus.
são cavaletes de pintores suicidas.
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

conhecer de mim


as tolas figuras que pensam
que são...eu
não sabem de nada, são areia
sobre a clara face dos espelhos
por aí viajando, finta estrada.

não me conheces
e me pretendes falso
ou verdadeiro
tua ignorância mede tudo
com imprecisão absoluta

não acredites nas figuras tolas
que me tutelam
por mágica elas me escondem.
o que revelam
é o que eu permito
o instante é o mito.

detesto ser solene
envolto e solerte,
mas eu sou assim.
queres conhecer de mim?
enquanto isso te descuras
do teu jardim.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

la ronde de la nuit



como poeta faço a ronda da noite
procuro os secretos atalhos para o dia
jardins, florestas, igrejas, cemitérios
que eu  visito sob a lua lisa e fria

não tenho medo deste trabalho
não é desonroso buscar o sol nascente
então, com meu cajado da Arcádia
pastoreio muitas criaturas noturnas

goblins, trasgos, silfos e ondinas
que pelas fontes vagam impudentes
eu alerto dos perigos de Lucina
tiro muitos de um lobisomem dos dentes.

bakenekos, ayakashas e mononokes
são dóceis e frágeis, mas você, alma,
que sempre procuro por estas sendas,
morde-me de uma forma mais sutil.

não toleras que te busque, névoa acesa
caçadora letal, predadora alada
insatisfeita comigo, fátua pincelada
que não responde a minha tristeza...

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sábado, 23 de julho de 2011

tower

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨

os pés sobem a fria e verde escadaria
que serpeia pelo interior da torre
janelas e corrediças, tapetes e quadros
e te escondes por cantos e sombras

lá fora a tempestade atroa
o que vem com o sonho é misterioso
o medo de cair me alerta
subo e não quero que me vejas

luzes brancas flores coloridas
candelabros tristes, faces divertidas
para baixo o poço negro
para cima o teu quarto azul

nas paredes mensagens secretas
em línguas diversas
nos degraus poeira e névoa
e pelo ar voa o cantochão.

ouves-me e viras para olhar
mas escondo-me e vejo teu fino rosto
sussurras um trino de pássaro
abres tua porta, ruge o mármore.

deixas-me entrar na tua câmara...
só um espelho e uma pequena cama:
mas no fundo o pesado pêndulo balança
teus olhos, pura desesperança.

despes teu manto vermelho
e revelas tua pura glória
ergo a espada e destruo com o relógio:
cessa a tempestade e a música.

também nu, eu bem firme te abraço
sem tempo entre nós, nem espaço
nos unimos facilmente
mas súbito o raio desce do universo

soçobra a torre, enquanto amamos.


quinta-feira, 21 de julho de 2011

brincadeira


sou eu
o mais antigo fogo

o primeiro a entrar no jogo

diante da tua compreensão

mundo

sou palavra na fogueira

por meio de analogias simples
desfiz-me,

pois desejei queimar.

não me limito à chama

reduzo a vela a um estado cognoscitivo

aparento-me às coisas

imito o ser indecisivo

contradito desmim.


terça-feira, 19 de julho de 2011

dream

 
Dream, witty & slim,
Shaper of forms & beings
No-one & no-thing,
would you mind
bringing my love
back to me?

that life of mine,
spirit of wine
or absinthe fairy?

(I know what says
that dark pearly glance
of his eyes, that silence
of no-man, no- god,
unseen:

-NO.)

why canst thou, Dream,
bring my love
from thy misty shore?

-Not My Duty, You See?

Anon, messire.
so send me to that
island’s 
hellish strand
with no man, harbor,
or vessel,
& have me ended.

-Fare Thou Well.


sábado, 16 de julho de 2011

Meine Seele ist alle...



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a alma, se existir,
deve ser boa, até bela,
talvez.
mas a nossa idéia da alma,
como toda outra ideação das coisas,
é terrível:
incompleta, inconsistente
volátil, tem tudo em comum
com os sonhos- que sempre acabam
e se  perdem.
alma, te sonhei de novo esta noite:
foste ao meu lugar de trabalho
abriste a porta, perguntaste por alguém
conversamos...és em tudo tão semelhante
a mim, mas também és minha cônjuge alquímica.
carreguei-te no colo, pois não queria perder-te
e procuramos pelos imensos corredores
de repartição pública a pessoa com quem devias falar.
apresentei-te aos meus amigos.
senti os teus cabelos e teu cheiro.
escadas, salas, guichês, nunca encontramos
quem tu buscavas.
saímos de lá prontos para ir para
a minha casa fazer a nossa coniunctionis ...
mas já pesavas demais e eu não
podia mais te carregar.
era o fim do sonho em que eu dizia
“moro entre duas ruas...”
mas tudo já estava nebuloso,
vaporoso, diáfano, sumiste de minhas mãos
e acordei.
o teu rosto e corpo são inexprimíveis, inauditos,
os espelhos são falhos, não sei.
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