-Quem é o dono deste blog maluco?
-Ei, cara, entra aí e descobre.
-Pôxa, que falta de educação!
-"O caminho do excesso leva ao palácio da Sabedoria."
-Saquei. Até mais!

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

venha!

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Na infância a vida eram glóbulos de luz...
Alegria diáfana e multicolorida.
Na adolescência era uma casa soturna
eu me escondia nos sótãos e alçapões
e só saía para respirar quando os fantasmas
tinham ido embora.
Hoje todo dia me aproximo mais do lugar onde
meu corpo deixará de existir pelas chamas,
preso numa carreta e exposto às pedradas, cuspes
e palavrões: bruxo! relapso! ingrato!
Dia a dia posso ver melhor a clareira onde
se dará a ecpirose.
A procissão segue e estas vozes e estas névoas
não cessam de falar e falar sempre a mesma coisa...
tratam-me como se me conhecessem, mas nunca
as vi. Julgam-me com extrema facilidade, e me condenam
pelo que fiz e não fiz. Não tento retorquir, é inútil.
Guardo minha existência com cuidado, não desperdiço.
São crianças, adultos, velhos, homens, mulheres, animais,
deuses, planetas, símbolos, idéias puras intocáveis.
Minhas correntes pesam o mundo, minha jaula carrega
o supérfluo de mim.
Se quiser, venha você também seguir este lúgubre desfile.
(mas cuidado para não ser pisoteado, esmagado pelas rodas
da carroça, ou detido como herege, também)


domingo, 21 de agosto de 2011

alma, perdido no teu castelo



perdido à noite no castelo da Alma
esta idéia primal e perigosa
que ao homem não concede ágio ou calma
enigma de tristeza, justa desonrosa.

ouço água correr, passos pelo salão
estampidos súbitos, espadas a brandir
vejo vultos nervosos, pegadas pelo chão
névoas prateadas, para onde devo ir?

janelas embaçadas, alçapões trancados
velas sem força contra a densa treva
minha fuga destes paços assombrados
consome a um tempo e enleva.

Alma, miragem da idade platônica
Te concebo uma criança delirante
Brincando de ser  eva, una e mônica
Mas que, na verdade, és  mutante.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

vanitas




conquistas vãs como folhas que caem
vinho que desce, oblívio que assoma
navios que não chegam  nunca ao cais...
extintos os reis, para quê este
vasto, assombrado, obscuro palácio
da memória?
o jardim crestado, o haras silencioso,
o armorial em ruínas...
as masmorras descendo sangrentas e
oblíquas ao poço
dos desejos.
e teu olhar gracioso e incorpóreo
no quadro da parede,
açoitado pelas sombras das chamas das velas.
no final, foi isto que me sobrou.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

sonetto ad una ragazza piccina



amor, lei è proprio piccina
le stelle mai le toccherà
resti al suolo sì vicina
ma brillante sei, dolce beltà.

i tuoi occhi ridono di me
se un bacio tuo desio
guardi le nuvole con brio
e un soffio caldo sinto, ahimè!

capelli ricci, montuosa piel
profumo di dattere e pesche
parli e le parole sembran miel

ami i versi e le burlette,
altrettanto io. Piccina sei,
ma le cose del genio posi sulle vette.

domingo, 14 de agosto de 2011

più bel fior




cogli oggi il più  bel fior
ché senso dumani non ha
l’arcobalen dipinge il giorn
ma il capello grigio si fa

appannati  i  cieli
e percossi i veli
alla natura gradisce ‘l vuoto...
tempo e spazio senza moto.

gioventù sopraffatta
vecchiaia ignorante
marea bloccata
Saturno nel levante.

caixinha de torpezas




O mundo não tem nada a ver
com uma caixinha de surpresas;
é mais uma gruta de torpezas
o abismo entre querer e ser.

Estou perdido nesta espelunca
Onde não desce um raio de luz
O sol é negro, rota a cruz
todo dia é tarde, é nunca.

Triste é a jornada na caverna...
Como bonecos desarticulados
que uma mente comatosa  governa
Soluçamos nus e enjaulados.

Vagam por estes corredores
Monstros e verdugos da razão
Sanguinários caçadores
Que são de nossa criação.