-Quem é o dono deste blog maluco?
-Ei, cara, entra aí e descobre.
-Pôxa, que falta de educação!
-"O caminho do excesso leva ao palácio da Sabedoria."
-Saquei. Até mais!

quinta-feira, 30 de junho de 2011

ángel


concedo-te que me acompanhes
podes seguir-me a toda parte
ande comigo, siga tudo que faço
ame o que e quem eu amo,
odeie quem eu te ordenar que odeie.

leia meus livros, veja meus
programas favoritos, compartilhe
o chuveiro e as boas e más companhias

podes dormir no pára-vento
usar o capacho e a escova de dente,
ser um bom escoteiro.

te permito todo esse existir, lembra,
pois não tenho muito contra ti.
mas  o cão Tempo geme baixo e aguarda...
ambos teremos fim,  anjo da guarda.



contra escrever



não sei como me penso
ninguém me ensina a sentir
a alegoria do homem é o porvir
no presente o vazio é imenso.

de onde vim? também é dúvida
o letes tão fundo e tenebroso
tomou-me do passado a quente ermida
e onão lembrar-me é doce e honroso...!

os tempos três em prosa e verso
são falhos, e eu, cínico e astuto
tendo a tirá-los do desfruto
da língua, esse fogo disperso

(essa lira ofegante... esse mercúrio vário).
ser poeta e escrever é um bel rosário...
de dores e castigo, amálgama do inferno.
Pena e  Papel, amigo, um suicídio eterno.




quarta-feira, 29 de junho de 2011

árabe

entrego-me ao sono
a noite é bela
as nuvens descem como
um velame...
parto por vias desconhecidas
minaretes
mercados
jardins
da velha cidade
abres tua porta
protegida pelos arabescos;
impelido pelos gênios e efrits
busco teu beijo
mas tua boca não existe.
teu olhar oblíquo me dá medo.
toco tuas mãos geladas
mas não podes sair.
de dentro da casa vem uma voz
de advogado:
- vem para o leito.
não tens lábios mas dizes algo
simultaneamente demoníaco e angélico
e vais embora
teu vestido vermelho farfalha em áreas específicas
o sol ressurge, caio de joelhos
na duna da tristeza.
acordo mas o sonho não acaba.
dormes ao meu lado
perfumada de damasco seco.

terça-feira, 28 de junho de 2011

pequeno hórus


Como o sol,
o menino pede silêncio
o pai está morto
a mãe lunática.

O homem lá embaixo,
o rio...
tem períodos de seca,
de cheia.

o vento sopra entre
as desfiguradas pirâmides

o deserto é um grande adeus
a si mesmo pela natureza da areia

o falcão, mais que um raio incandescente
é miragem e memória
vertigem,
apogeu
perigeu.

regressão


a linguagem regride
sou belo ou feio?
forte ou fraco?
sábio ou tolo?
o que interessa não surgiu
o eu que é tudo isso.


desafio todo mundo a provar
que este eu é- ou não- causa ou
consequência de alguma outra coisa;
pois se ele é, o argumento vale ad infinitum
e, se não é, também.
o eu não é base, nem centro, nem arremate,
emenda, nem fim. nem não é.
sua existência ou inexistência é indiscutível.
não é feito ou desfeito de sonhos,
amor, imaginação.
não é de minha especialidade.
como continuo tão aferrado a ele?


 “eu, sem apegos, estou além da miséria. O Nirvana é meu.” aqueles que assim pensam têm grande dependência e apego.
Nagarjuna, Versos fundamentais sobre o Caminho do Meio.


segunda-feira, 27 de junho de 2011

gato onírico

na cidade em que todos já dormiram,
eu passeio.
de calçada em calçada
deixo minha pegada.
a lua não me olha
o rocio não me molha

cuidado se você for um insone!
posso te ferir sem querer
ocorre que eu nasci assim:
arcaico caçador da noite,
tigrino predador
da gente desperta.
minhas garras cortam
o abstrato mais sutil
o concreto mais coeso.


tetos e muros são instantes...

oculto-me de cores e sons
suspendo-me do éter
invado tua casa,
deito do teu lado,
afio as unhas na tua chinela
depois da alba vou embora.


domingo, 26 de junho de 2011

poeminha jap

sem palavras em puras noites mikado
pétalas 1000 formas pequenas  luzes
    gotas ideoglifos misteriosos kana
                           espelhos sentenças pictures
                            delgadas cores hana
                                   psico flower
                                        entremeio
                                  exato tatame
                                      kissu
                                      suru
                                        .
                                       .
                                      .
  

bruxa


na floresta das banalidades abstratas
mora a bruxa de linguagem infantil
para seu caldeirão onde fervem bravatas
ela atrai os caídos de deus no ardil.

muitos já viraram desta arte ossos e cera
muitos acharam-se fortes para resistir
aos encantos da bruxa que se esmera...
mas dela, em disfarce  de fada, é difícil fugir.

te põe na gaiola e de doces te cobre
diz que deus é bom e que mais te dará
no fim estás estufado e não tardará
que mais  nada de tua vontade sobre.

ela fala bem fininho e te hipnotiza
para ti é bela como um arminho
mas sob esta aparência mimetiza
um mal  primevo, um doído espinho.

entra-te na carne, rouba teus esforços
não lutas mais, e no caldeirão borbulhas
não és mais nada, do fogo as fagulhas
consomem tudo, resta esqueleto e remorsos...


sexta-feira, 24 de junho de 2011

moon

amor desces da lua
pisas a grama de meu jardim
tens um corpo de prata
e não dizes nada.
aqui neste olho de mar
cercado de horizonte
à sombra dos sete planetas
não emites frase alguma.
giras e giras
refletes o meu jardim
eu
todo o resto
amor, és fantasma
de uma bárbara alquimia
surgida...
minha vitriólica lua-rosa.
quando afinal tens vozes
e falas, ouço:
-lá na altura te escuto.

ao vir do sol, restas um
círculo talcoso no chão.





quinta-feira, 23 de junho de 2011

praia surreal

a onda de Tempo
que encobriu todo Resto...
sol drinque de luz
tornado pérola
quantas figuras faltam
para um conjunto vazio?
mirante da praia paradóxica
farol distante um pólo.

roupa de baixo da razão
tremenda festa simbólica
empalidecente orla púbica.

sambaqui, sambaqui
quem pra cá te traz já se foi
errática carta náutica
fez-te sumir daqui.

frágua, frágua fragata
Colomba intimorata
Bocejas um novo mundo
-espero- digníssimo.

Antinora rainha rei nada
Salva vidas da alvorada
Cabot magelânico
delubro messiânico


Intermediário pé em falso das colunas de hércules.





my friend Infinite







 à beira da esplanada
do  número absurdo,
como um feio gárgula deitado,
estás esperando por mim



inquietante Infinito.

não sei se percebes
que não tenho medo de ti.
bem, não exatamente medo...
é exacerbada cautela perante
  tua insólita natureza.

não desvie os olhos de mim
quando eu chegar, pois
   passei o éon todo a tua procura.

nem me venha com senhas, enigmas
e supraverdades. eu abomino testes
e jogos. vou bater no teu portal inferior,
abre-me com um sorriso.
se vais dizer-me algo, que seja breve,
  leve como uma piada de papagaio,
amigo.


quarta-feira, 22 de junho de 2011

CONTAGEM



A DIFERENÇA ENTRE NÓS
É ESTA...

VOCÊ CONTA ASSIM:

...0 1 2 3 π 4 5 6 7 8 9 ...

E EU CONTO ASSIM:

...∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞ ∞......


 SACOU ?

SOPHIA PHYSIS

primais,
fluidas,
gnósticas
enxaquecas do cosmos,
em que ele sonhou
a Alma. Em que ele
soprou-me as narinas
e desligou-me dos Antigos,
do Felino, Anfíbio, Réptil e Ave.
Agora estou separado, incompleto
o medo surgiu, formou-se o umbigo do mundo
e terror do oceano.
e veio Tanatos e os túmulos.
Diverso da Terra,
enclausurado na
pequena esfera fria,
giro sem referentes
ereto e desventurado
padeço porque sou eu.


terça-feira, 21 de junho de 2011

quartetos do caos e da ordem


arroxeado ponente do caos
luz multiplexada pelo vitral
feridas nos bons e nos maus
orla insegura entre o vazio e o real

hemorragia inter-evento: além
do lance de escadas, a tépida alfombra.
injeto-me claridade, sonho-me tão bem
que conheço o nome de minha sombra...

a ordem universal a flux invertida
modesto pano que cobre o pífio deus
dum permanente definhar da vida...
negados beijos mil por teus mil eus.

resolvi escrever estes motetos
pois sou nexo entropia e eunomia;
entrelaçado de treva e luz perdi a reta via...
caos e ordem não gostam de quartetos.