perto da terra
que teu corpo enterra
flutua a névoa
da velha póvoa
revoa um canto
de triste encanto
despovoado mundo
apinhado além-túmulo
aqui um médico
ali um louco
de que todos temos um pouco.
uma criança aqui jaz,
ali um velho faceiro
as lápides gastam por inteiro.
o santo e o assassino
por quem não dobra o sino
o pobre trabalhador
o orgulhoso conquistador
a senhora sábia, o padre pedófilo
o puxa-saco, o vendido, o soldado...
a mais bela rapariga do condado
todos à mancheia
repartem-se os ossos
a carne sujeita-se, desgruda-se, enfeia.
mas , no fim do cemitério
sob o velho olmo esquecido
estás tu, poeta funéreo, lá
onde as gatas vão parir à noite.
e pensas na felicidade que é
estar em boa companhia.

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