CARTA 1 (dama)
Que atrevimento ter escrito esta carta!
Só nos vimos antes, senhor, uma vez.
Não sou como as damas parisienses.
Diz que sou uma bruxa que o enfeitiçou.
Que doente caiu, de amores por mim.
Ah, quanta pretensão!
Tenho uma casa e um trabalho.
Escrevo e disso tiro meu sustento.
Para quê preciso de um homem?
Ainda mais um itálico! Acha que ignoro
Sua reputação de cavaleiro de empreitada,
Maléfico caçador de vestais e donzelas?
Pois, senhor, cesse seus escritos.
Qualquer ousadia posterior
Resultará perigo de morte.
CARTA 2(DAMA)
Esqueci todos os meus assuntos,
não consigo esquecer aquela tarde
no jardim em que nos vimos de novo.
Terá sido influência da lua,
ou das papoilas? oh, memória!
o que fizemos, por entre os teixos...!
Onde estás, meu cavaleiro?
Chamaste-me de Diana, de deusa.
Entrego-me totalmente a ti.
Sucumbo rapidamente.
Escreva-me, amor. Ardo de te pensar
Entrando em minha câmara.
Vem a meu encontro!
Com aquele teu manto negro
E teu cinto púrpuro.
CARTA 3(CAVALHEIRO)
Parto para a guerra contra a Holanda.
Para não mais retornar, talvez.
Adeus, amor.
CARTA 4(DAMA, DOZE ANOS DEPOIS)
Então foi aqui que ocorreu.
amor, o jardim tem odor lunar.
nossos beijos gosto de cereja.
padeci por três dias, e depois,
só entendo isto por mágica,
continuei meus fazeres, meus livros.
pereceste nas terras flamengas?
como? ou foi no mar, por espada
ou disparo? tanto quis saber.
ah, luzes da madrugada, como fui feliz.
ninguém mais entrou no meu jardim.
continua aquele sono a me ver reclinar,
sobre a pedra arcaica da fonte
a água a fluir e a te dar
o aspecto de um anjo que chegou e partiu.

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