no sonho que eu tenho toda noite
e que no tempo se estende como
um obscuro pergaminho,
depois do mezzanino, onde toco o sino de cristal,
entro numa livraria, pego um livro,
e não consigo ler o nome. Procuro
em vão pelas linhas e desenhos:
tudo tão branco, somente papel.
avanço pelas estantes e corredores
e chego a uma porta que sei que é
uma porta mágica.
ela conduz ao grande colégio, e o
grande colégio conduz às catacumbas iluminadas
onde estão meus amigos.
subo as escadas espiraladas
e vislumbro o último patamar
que se destaca do pescoço e do crânio,
o dia amanhece com cheiro de papel queimado.
existe mais uma porta que desce de novo
pela narina esquerda da face do anti-deus:
por trás do arabesco de ferro azul...
há um imenso shopping center.
As pessoas se conhecem mas não
desconhecem que são únicas.
as lojas desfilam bocejos vazios e vítreos.
pego então do meu bolso um spray
e picho uma delas com a frase verde
SOU A FAVOR DA LIBERDADE!
o sonho acaba e eu não morro,
simplesmente beijo os rasos lábios frios
do meu rosto refletido no espelho.

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