Cidade dos boçais
Dos velhos castiços
das donas falazes
Belém dos risos
Dos rios colubrinos
Dos céus cor de padre
Mãe de ervas e dores
E dos meus amores
Inanimados
De flores mistas de
Procissões desesperadas
Em busca de uma santa fé,
Mas que mais tem de meretriz,
que bicho do pé que dá em
beira de igarapé.
Belém do não estudar
Do viver para servir
O ventre e o que tem embaixo.
Estrangeiros benvindos
que de além-mar chegam
a infectar nossas meninas.
Belém dos incestos
Das semanas de férias
De pipas, piões e petecas...
Cidade uma vez culta
Duas vezes coroada,
Quantos infames sepulta!
És assim, rica em prognoses
Mas despida de realidades
prenhe de realezas peçonhentas:
Políticos filhos de Salem,
Povo de Belém, que os elege
E chora depois seus abortos.
Vive-se aqui a hora do morto
Enquanto ali no horto,
Se deitam juíza e ladrão.
Quero cantar com sinos
Mas quem levou o patrimônio
Nosso? O empresário.
Demais ter por garoa
A mendicante caridade
De doutores universitários.
Que aqui a academia e a igreja
chupam-se os dedos
Assim como a bandidagem a polícia.
Vencidos, perdidos,
pelas bibocas da sexta-feira
estão os provetos gestores.
Os cientistas moram em
trolhas, os homens públicos
Saem no réveillon da Doca.
Públicos? Não diria.
Criminosos, bebem vinhos
pagos com improbidade e peculato.
Oh, Belém, que tens de bom,
Além de passarinhos,
Que teus homens não valem um vintém.
Nem este que canta teus desvarios
Embora com isso sofra muito
Faz nada por ti, Belém.

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